segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Trecho do livro Nosso Lar psicografado por Chico Xavier (pelo Espírito André Luiz) que fala sobre o papel do homem e da mulher na vida conjugal:

"– O orientador, muito versado em matemática – prosseguiu ela –, feznos
sentir que o lar é como se fora um ângulo reto nas linhas do plano da evolução
divina. A reta vertical é o sentimento feminino, envolvido nas inspirações criadoras
da vida. A reta horizontal é o sentimento masculino, em marcha de realizações no
campo do progresso comum. O lar é o sagrado vértice onde o homem e a mulher se
encontram para o entendimento indispensável. É templo, onde as criaturas devem
unirse espiritual antes que corporalmente. Há na Terra, agora, grande número de
estudiosos das questões sociais, que aventam várias medidas e clamam pela
regeneração da vida doméstica. Alguns chegam a asseverar que a instituição da
família humana está ameaçada. Importa considerar, entretanto, que, a rigor, o lar é
conquista sublime que os homens vão realizando vagarosamente. Onde, nas esferas
do globo, o verdadeiro instituto doméstico, baseado na harmonia justa, com os direitos e deveres legitimamente partilhados? Na maioria, os casais terrestres passam
as horas sagradas do dia vivendo a indiferença ou o egoísmo feroz. Quando o
marido permanece calmo, a mulher parece desesperada; quando a esposa se cala,
humilde, o companheiro tiraniza. Nem a consorte se decide a animar o esposo, na
linha horizontal de seus trabalhos temporais, nem o marido se resolve a seguila
no vôo divino de ternura e sentimento, rumo aos planos superiores da Criação.
Dissimulam em sociedade e, na vida íntima, um faz viagens mentais de longa
distância, quando o outro comenta o serviço que lhe seja peculiar. Se a mulher fala
nos filhinhos, o marido excursiona através dos negócios; se o companheiro examina
qualquer dificuldade do trabalho, que lhe diz respeito, a mente da esposa volta ao
gabinete da modista. É claro que, em tais circunstâncias, o ângulo divino não está
devidamente traçado. Duas linhas divergentes tentam, em vão, formar o vértice
sublime, a fim de construírem um degrau na escada grandiosa da vida eterna.
Esses conceitos calavamme fundo e, sumamente impressionado, observei:
– Senhora Laura, essas definições suscitam um mundo de pensamentos
novos. Ah! Se conhecêssemos tudo isso lá na Terra!...
– Questão de experiência, meu amigo – replicou a nobre matrona –, o
homem e a mulher aprenderão no sofrimento e na luta. Por enquanto, raros
conhecem que o lar é instituição essencialmente divina e que se deve viver, dentro
de suas portas, com todo o coração e com toda a alma. Enquanto as criaturas
vulgares atravessam a florida região do noivado, procuramse mobilizando os máximos recursos do espírito, e daí o dizerse que todos os seres são belos quando estão verdadeiramente amando. O assunto mais trivial assume singular encanto nas palestras mais fúteis. O homem e a mulher comparecem aí, na integração de suas forças sublimes. Mas logo que recebem a bênção nupcial, a maioria atravessa os véus do desejo e cai nos braços dos velhos monstros que tiranizam corações. Não háconcessões recíprocas. Não há tolerância e, por vezes, nem mesmo fraternidade. E
apagase a beleza luminosa do amor, quando os cônjuges perdem a camaradagem e
o gosto de conversar. Daí em diante, os mais educados respeitamse; os mais rudes
mal se suportam. Não se entendem. Perguntas e respostas são formuladas em
vocábulos breves. Por mais que se unam os corpos, vivem as mentes separadas,
operando em rumos opostos.
– Tudo isso é a pura verdade! – aduzi comovido.
– Que fazer, porém, meu amigo? – replicou a bondosa senhora – Na fase
atual evolutiva do planeta, existem na esfera carnal raríssimas uniões de almas
gêmeas, reduzidos matrimônios de almas irmãs ou afins, e esmagadora porcentagem
de ligações de resgate. O maior número de casais humanos é constituído de
verdadeiros forçados, sob algemas.
Procurando retomar o fio das considerações sugeridas por minha pergunta inicial, continuou a genitora de Lísias:
– As almas femininas não podem permanecer inativas aqui. É preciso aprender a ser mãe, esposa, missionária, irmã. A tarefa da mulher, no lar, não pode circunscreverse a umas tantas lágrimas de piedade ociosa e a muitos anos de servidão. É claro que o movimento coevo do feminismo desesperado constituí abominável ação contra as verdadeiras atribuições do espírito feminino. A mulher não pode ir ao duelo com os homens, através de escritórios e gabinetes, onde se reserva atividade justa ao espírito masculino. Nossa colônia, porém, ensina que
existem nobres serviços de extensão do lar, para as mulheres. A enfermagem, o
ensino, a indústria do fio, a informação, os serviços de paciência, representam
atividades assaz expressivas. O homem deve aprender a carrear para o ambiente
doméstico a riqueza de suas experiências, e a mulher precisa conduzir a doçura do
lar para os labores ásperos do homem. Dentro de casa, a inspiração; fora dela, a
atividade. Uma não viverá sem a outra. Como sustentarse o rio sem a fonte, e como espalharse a água da fonte sem o leito do rio?"

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